sexta-feira, 22 de maio de 2015

olhos, mármores de memórias



Há noites, que sobre as ruas , sinto os teus passos a caminhar em nos meus olhos, a me elevar numa petúnia germinada, aqui, no estômago... Mas nos meus olhos habitam Rocinantes espadachins de lágrimas, desbastando as solidões no meu corpo. A esta hora (são duas da manha e faço orgia entre as teclas da máquina de escrever que me roubam os sonhos e o copo de vinha que me saca os suores do coração, uma alameda de viagens e de pensamentos negros divagam em formas disformes de palavras (todas as palavras são disformes no vulcão do pensamento) com que os meus dedos viajam pelas teclas, assim como se fossem um corpo que aqui não está e a tecla A fossem os lábios e a tecla Z fosse o alem infinito interior do corpo) e as ruas estão vazias lá fora e o meu olhar divaga no fundo do copo vazio do álcool. O meu corpo movendo-se sentado vendo tudo nada movível... E o vento amor que bate no rosto assim como partículas de contínuas combustões riachos de petróleos de beijos... Mas a noite esta vazia... A esta hora... Ate de ecos... Até de sonhos.. Por dentro do amor apenas sou capaz de sentir o dilacerar desta solidão... Sentir ainda as tuas mãos a invadir meu corpo adentro, desventrar-me a pele e sentir que as tuas mãos, os teus olhos, e a tua boca atingem o clímax do coração... Ontem estive debaixo de uma oliveira a ver o espelho dos meus olhos ... No crepúsculo da noite, e chegar á cidade vejo-me rodeado de uma nau repleta de horizontes... Existe uma espécie incomum neste meu horizonte... Uma imortalidade de lágrimas.verto agora, lágrimas de pedra... A noite vai longa, longe, intima , imóvel... Mas mesmo assim, sinto-a numa importância literária... Talvez seja a única possibilidade de abrir os olhos, e ver-te aqui sentada numa conversa de silêncios e de sorrisos enquanto lá fora dentro do coração pulsam lágrimas por saber que apenas és uma ficção, no agora...

Sabes noite, ainda choro por ti no passado... Ainda sinto as lágrimas a verterem sangue neste peito rasgado e os meus olhos a proclamarem silêncios dos teus lábios. A caneta a ranger as cartas dos lábios que desejei escrever no intimo nosso... Ali , a lareira acesa e aqui o meu corpo posar faminto do aconchego dos braços quentes, acolhedores de novos lumes. E enquanto deixo o meu corpo aqui preso deambulante de escritas e de pensamentos, sinto que as raízes se entranham na terra , me aprisionando a uma casa deserta. E nada mais habita nesta casa. Nem olhares, nem vozes, nem ruídos, nem pedras a ranger nas tempestades. Apenas um corpo ferido num golpe de asa embebido numa taça avinagrada de realidades.

Porque não existem mais ruas além das tuas... E o tactear dos sabores embebidos nos olhos, cerrados sobre o beijo percorrendo o universo , e as camaleónicas cores que explodem nas teias dos lábios, tecendo casulos de paixões... Oh noite que me és tão vertiginosa de sonhos

Nunca é tempo para partir... 
      as horas são tantas,
            e os beijos com sabor a jasmim 
                  ainda habitam nos meus lábios...
                           intemporais

As âncoras, os ramos, essas algemas que nascem nos poemas em forma de lágrimas... Um céu de réus momentos, ovacionadas na noite, esta floresta negra de sombras partituras de uivos, um soluçar de beijos entre o meu corpo e a minha loucura. Umas muralhas escondidas no pavor das horas, neste sacrário onde habita o teu nome, a rosa talhada a ouro dos sopros labiais... Há um todo de magia nesta boca que beija a tua boca e os olhos que cerram os partais do tempo e me elevam numa viagem cósmica. Escrevi ontem que entre o eco e o beijo há um vale de loucuras... O eco enlouquecer-me ao ouvir as tuas mãos a rasgarem o meu peito, de saudades, de verdades; o beijo faz explodir o vulcão de loucuras em pétalas de fogo e de emoções.

Sentado na poltrona da noite, vejo as aranhas que me tecem o olhar... Fio a fio, o passado se torna cor... E este negro mundo, assim como as fotografias antigas, se desenham as lágrimas invertidas em sangue... Nunca quisera eu suicidar o passado... Nunca eu ardi no passado... Mas sinto um lume que me colmeia os ossos do futuro, e esta estrada infinita deixa-me colado no vidro da janela.. Assim, como a gotículas da chuva que se embala no gélido vidro... Opaco rosto este meu mundo... As humanidades que se me habitam, e esta literatura de capa rasgada que deambula em frio corte da navalha a aparar a barba do hoje, esbranquiçada nas rugas.

Ao domingo nunca te escrevo meu amor... É dia de ser eu mesmo, analfabeto das palavras, das fábulas, das poesias negras das noite, dos mil homens e das humanidades a quem dou abrigo... E ser teu por inteiro... Ao domingo meu amor, é dia de te levantar a saia da alma, rezar as Avés-Marias sob o corporal, e os teus lábios, meu amor, oh meu amor, os teus lábios serem o sanguinário eucarístico, e secarem o cálice, e as nossas mãos, serem as patenas que ostentam o nosso corpo em abraços e paixões. A noite ja vem longe meu amor, e a missa ainda demora... Lá no outro templo oram ajoelhadas, as beatas, aqui nos, sem cruz nem assembleias (estão todos a admirar o oculto Deus) eu fidelizo numa orgia de orações entre o meu olhar e a minha boca e as minhas mãos, a divindade existente em ti. Ao domingo meu amor... És toda a literatura em mim... E toda a igreja, e toda a religião, e toda a lei... Nos outros dias meu amor... nos outros dias és sempre domingo...

Mas ontem, resolves-te na calada das lágrimas fugir da minha boca. A noite submersa tornou-se solenemente silenciosa. As palavras se tornam agora pedras em muralhas escaladas sobre o granito grito corpo... Sabes, todo aquele sorriso que me beijava a alma, as flores que voavam da tua boca, e os perfumes que se inundavam do turíbulo do teu corpo sobre todo este corporal corpo quente admirava enquanto dormias, agora se torna apenas, uma constelação de ruas desertas... Sobre o linho das recordações percorro os teus lábios, os teus olhos, as tuas mãos, tecendo de novo em mim cada lembrança de ti...e as estrelas ali ainda se adormecem... Todo o tempo se adormeceu, menos eu... Menos eu... Eu que me fico a julgar as leis e as religiões, na janela fechada que dá para o outro lado da rua de fora de mim...

Toda esta noite não sei de mim. Existe uma espécie de guerra colonial dentro desta carnificina sentimento-emocional. as minhas mãos lutam por uma loucura desobediente de me arranhar a pele em busca de um néctar ainda ardente de ti. Os meus olhos, são lâminas a rasgarem os espelhos de onde me admiro morto de fantasmas de memórias. E os pés, artilharia pesada levantando as poeiras, dos chãos do meu próprio corpo . E as trincheiras do meu peito, destilam o sabor dos teus lábios que, como unicórnio se aliaram nesta terra agora de ninguém, sem ninguém... Nem de mim... Outrora, fui colonizado pelos teus próprios olhos, uma invasão pacificadora e autorizada de vida, de ar, de fogo, de paixão, de amizade .. Hoje, batalho neste chão de sangue de ácidas lágrimas que me colmeiam os sonhos e as ilusões.

Há um rochedo depositado agora no lugar do meu coração, e nos meus olhos, flores que se soltam das raízes, levadas sobre as lágrimas, assim , como este corpo, que fica, agora, a dormir sob a eternidade, numa hibernação de sonhos,

Escrevo-te na noite, não por facilidade do silencio me invadir a roupa da pele, mas quando me deito sobre o céu, sinto os teus olhos me vestirem de caricias, e os teus braços, esses gigantes ramos de flores, me abraçarem ternuramente, assim como o fizeste um dia ao descer a escadaria... Foram segundos da eternidade que senti a tua aura me esquartejar coração adentro. Uma lança a derrubar todos os pergaminhos do tempo... E quando caminhamos pelas ruas desertas de olhos e nos sorria-mos eu em ti vendo meus olhos, tu em mim vendo tua alma, e os dois nus, de pensamentos, de céus, de ruas... Abraçava-mo-nos diante da lua, e cá dentro as borboletas voavam em turbilhões soltando boca fora flores....esta noite está silenciosa... Assim, como agora fala o meu amor, aqui secreto, aqui dormindo, nesta cavidade do corpo, por uma artéria recebendo saudades, pela outra lágrimas, e eu vou escrevendo, o teu nome, os teus lábios, os teus olhos.... É estranha esta questão da eternidade... Mais estranha saber que a eternidade pertence ao passado e a saudade ao futuro, mas tu, oh tu, habitas corporalmente nesta noite... Aqui debaixo deste jardim de estrelas sinto o afagar do teu rosto sobre o meu ombro, como o fazias tantas vezes... E ficávamos a admirar o nada em volta de nós... A poeira do nada, as ruas do nada, as estátuas vestidas de nada... E nós éramos tudo... E agora meu amor, invade-me uma solidão tão atrozmente eterna... Mas foi momentânea... Voltei a sentir-te em mim, veio de novo o abraço, e aqui me fico, a escrever-te em memória de uma realidade tão nossa... Mesmo que ausente... Mesmo que distante...

E arder os olhos, das cinzas reflexos da tua face, esse fogo que se me arde nas noites, como o sol seca as emparedadas sôfregas lágrimas... Ontem dancei contigo sobre as ruas que hoje escondem estes segredos que beijamos sobre o tempo, este que foi nosso cúmplice, sacerdote do matrimonio dos nossos lábios que hoje separamos, como se roubassem as estrelas a noite e no seu lugar dançassem sombras, Templários da solidão... E beijando cada ilusão , sinto tuas mãos percorrendo a metamorfose da realidade no meu corpo, me levitando...

Abraço os teus lábios sentindo todas as muralhas de certezas a se desdobrarem no tempo silencio da torre da igreja, os sinos dos nossos olhos, cantando alelulias das ressurreições das nossas vozes, unas, proféticas. Ter a certeza que nunca nos fomos amantes, mesmo que nossas bocas tocassem o corpo de outrém, a verdade, e a única verdade, é que aquela noite foi de fogo intenso, na qual nos de acordar do medo, e sair para a rua, de olhos dados, e gritar a verdade deste nosso ser. O amor, esta cerimonia na qual nos entregamos apenas nos toques, apenas no algodão doce das bocas, e no perfume de rosas do corpo. Nunca nos fomos amantes, nem mesmo os fantasmas que dormem nas esquinas, que sossegaram a cada passeio nosso, a cada palavra nossa ecoada nos silêncios...

Possivelmente esta será a minha última viagem.. A memória fica crucificada na minha boca em que ontem senti as tuas palavras, os teus beijos, os teus silêncios, o teu olhar. Não é que eu me morra no hoje mas sentir toda esta ausência de ti não faz mais sentido a viagem... Há uma vertigem qualquer em torno das lágrimas que se me escorre do teu adeus na minha boca, da minha boca... Na minha alma...

Ontem fomos eternos, hoje somos memória, amanhã...amanhã seremos uma partícula de humanidade histórica nesta exaltação de acontecimentos resplandecentes de berços de lábios em que despertamos os relâmpagos cinematográficos reais destes dois nossos corpos.... Uma cinematografia real, docemente real, puramente real...

E nos espelhos que navegam nos olhos existe uma espécie de estradas do meu corpo sobre o teu 
sobre uma espécie de Génesis 
E uma voz apocalíptica me acorda hoje me afirmando em soluços que já não estás 
Neste princípio eterno finito de que já não estás 
O sonho 
A realidade 
O mar crepúsculo deitando-se comigo 
O mar harpas lágrimas pórtico na boca
Me transformando em objecto 
a abóbada, 
  o chão, 
        a boca, 
            o infinito , 
                 o olhar, 
                       no fim do mundo 
Porque jamais deixarei adormecer este fogo, 
estas cores dimensionais, 
os teus olhos, 
as tuas faces, 
os teus lábios, 
o papel das tuas mãos 
que me escreveram 
historias, 
e verbalizaram 
os silêncios e as lágrimas, 
os sorrisos e o tempo. 
Hoje durmo sobre o teu olhar para lá da janela dos meus olhos. E amanha no acordar, abro a janela, vejo o sonho acordar também no orvalho que se me esvai nos olhos, colho uma flor, e a terra desenraizada ecoa a tua voz, o teu sorriso sobre mim. De mim nunca partis-te, habitando nesta terra que me renasces-te da cruz do passado.
Vivo cada instante em ti, o real, o sonho, a ilusão e nem a tua partida me ausenta, invoca-me as memórias, as palavras, a valsa dos olhares...
Sentir os braços decepados de forma inalcançável dos teus.
E a minha boca decapitada da tua,
Urge em mim um fogo que me queima 
Penosamente um fogo que arde 
Um tempo que nunca passa 
a libertação de mim que nunca chega 
Uma violência de saudades que nunca termina 
Encarcerado coração que habita na dor 
Na morte
Na dor 
Nas paredes dos campo dos entretantos em que adormeço 
Os sonhos anestesiados em que enterro as realidade 
De espumas 
De sótãos 
E águas furtadas das lágrimas que se esvai nas manhãs dos sonhos 
Uma sucessão impiedosa 
De pensamentos 
De memórias 
de membros secos 
Olhos vitrais 
Neles que habitam estórias 
Imutável amor 
Imutável corpo 
Imutável solidão 
Imutável desespero do tempo 
que me estou igrejamente afastado da bíblia dos teus olhos 
O retrato deles a preto e branco pintados nos meus numa cor imaculadamente vivas 
E cantar , sofregamente, mais alto, o teu nome, 
Em eco 
Mudo 
Cego 
Fios de oiro que se me envoltam 
A tua existência ancorada 
Acordada 
Em mim 
Arrancando de mim todas silvas espinhadas transmigatórios de medos 
E lembrar-me de um sonho 
Um sonho lindo 
De onde me liberto, levanto-me das poeiras de girassóis 
E afagando corpo túmulo 
Renascendo em agulhas de carícias 
Nesta agricultura sementeira de carícias, de sentimentos, 
Tão sossegado encontro o teu corpo 
Tão fugaz encontro teus lábios 
Num ateísmo abrasador de lábios estrelados nua lua cheia da tua boca 
E so nestas vidas encontro a tua alma, o brasão 
E no além infinito encontrarei os Mondegos do teu corpo 
Epopeias imortais 
Cânones e Génesis e Apocalipses que me aconteces, que me nasces, que me dás vida, 
Que o céu nunca secou, de lágrimas quando não me habitas, quando me ausentas, quando os deuses adormecem 
E meus olhos,
os meus olhos, 
os meus olhos, 
mármores de memórias 
habitam eternamente em sabor a canela a me desaguarem sob a boca.

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