segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ves a porta aberta



Vês a porta aberta. Não totalmente aberta. Mas tao aberta o quanto o necessário para teres medo e coragem de entrar ou de ficar do lado de cá. A duvida e o risco inserem-se pela tua pele arrepiada do vai e fica. Os teus olhos vagueiam pela soleira da porta como se estivesses à procura de alguma coisa que te desse um sinal, uma prova física de que realmente valeria a pena o risco de entrar ou o risco de dar meia volta e te ires embora.
Vês a porta aberta. Temes que la já não esteja o que desejas que esteja. Também ficas amargurada se la estiver o que anseias estar. A ambiguidade da indefinição troça o teu juízo e o teu sentimento. A floresta encantada do teu espaço pode transforma-se numa coisa magicamente enfeitiçada pela tua ambiguidade. Navegas entre o ser o estar e o fazer e essa dúvida te alimenta a falta de definição.
Vês a porta aberta. A mesma porta que quiseste que nunca se tivesse aberto. Mas que sempre ambicionaste no fundo do teu desejo mais sexual que nunca se tivesse fechado. Desejaste tanto que acabaste por te esqueceres de onde tinhas deixado a chave para poderes acorrentar novamente aquela maldita bondosa porta. E a fechadura, que já nem sequer dava o estalido do trinque a beijar delicadamente a soleira.
Vês a porta aberta. Ternamente aberta. Fitas com os olhos o que poderá estar daquele lado. Um lobo mau prontinho a devorar ferozmente o capuchinho vermelho por não ter trazido o seu naco de carne, ou então uma criancinha com um olhar tao dócil tao dócil na inocencia da esperança que lhe tragas um chupa-chupa e uns beijinhos no embalo do teu corpo. Ou um lobo mau disfarçado de criancinha maléfica que te comerá aos poucos chupando-te até ao termino dos teus ossos sendo o teu predador mais terrível. Ou a criancinha mais pacifica e mais amável disfarçada no pelo adocicado de um lobo que te aquecerá o corpo com a energia da sua pele.
Vês a porta aberta. Nem sabes o que la esta. Sabes que do lado de cá tens a certeza que está apenas o paradigma da tua incerteza. E por mais que os teus olhos fitem as paredes que ostentam o telhado, sabes que não terás nada mais com que te possas entreter a ordenar aos teus castanhos olhos que admirem o interior. Sabes que não tens janelas. Vives numa gruta de uma porta só por onde entra toda a luz.
Vês a porta aberta. Tu sabes que a porta se abriu. Enquanto tocavas o teu saboroso saxofone no banco do jardim para todas as pessoas invisíveis que teimavam ser o teu público que te aplaudiam silenciosamente e te deixavam moedinhas com prova do teu encanto. Os teus olhos brilhavam. Raiavam imaginação e desejo. De que a porta se abrisse.
Vês a porta aberta. E o teu coração palpita que nem um louco como se estivesses bêbado pela incerteza do que se encontraria daquele lado. A mesma incerteza que tiveste se eras capaz de cuidar do canário que albergaste dentro da tua gruta. A mesma incerteza que tiveste ser seria capaz de recuperar pela recaída do tinto no copo e da recaída do copo dentro da garganta com o respectivo tinto.
Vês a porta aberta. Sabes que ela não se abriu por acaso. Teve uma dica. Um pequeno encontra entre o poder e o querer.
Vês a porta aberta. A tua assombrosa dor da dúvida tomam conta do teu andar completamente descompensado e abrires a restante porta. O estilhaçar do romper da porta sobre o soalho de madeira fez timbrar sobre o teu ouvido meio gasto pelos anos fez arrepiar ainda mais a tua pele por saberes que entravas na gruta. Na tua própria gruta.
Vês a porta aberta. A tua imensidão escura fez elucidar todo o teu anseio da luz. A lamparina ocular acendeu-se infundindo sobre ti e sobre as quatro paredes o semblante que mais desejavas que ali estive.
Viste a porta aberta. Os receios de ultrapassar a margem da porta meia aberta para o lado da porta totalmente aberta se suavizaram pelo toque mais reconfortador na tua mão já fria pelos arrepios ternos da saudade.
Viste a porta aberta. Ultrapassaste os teus próprios medos. E as lagrimas despidas em sorrisos sabiam a mel despejados sobre os teus lábios pela caricia te oferecida pela eloquência da sensação mais carinhosa fêmea.
Viste a porta aberta. E ali, na tua cadeira dos anseios, sabias quem te olhava a sorrir pela menina dos olhos, aquela que sempre te via com um olhar terno e que a mesma ternura lhe enfeitiçara o amor por ti.
Viste a porta aberta. E num abraço de saudade juntamente com palavras mudas faladas com o bater compassado do coração, sabias que a tua amada estava ali. A tua frente, pronta para te receber no teu eterno descanso na profundeza do vosso amor infinito

2 comentários:

  1. Olá, amigo estou visitando seu lindo espaço, com a pretensão de voltar outras vezes.

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    1. Olá Enide. Obrigado pela tua visita e espero que me continues a visitar sempre que possível :D beijo

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