Vês a porta aberta. Não totalmente aberta. Mas tao aberta o
quanto o necessário para teres medo e coragem de entrar ou de ficar do lado de
cá. A duvida e o risco inserem-se pela tua pele arrepiada do vai e fica. Os teus
olhos vagueiam pela soleira da porta como se estivesses à procura de alguma
coisa que te desse um sinal, uma prova física de que realmente valeria a pena o
risco de entrar ou o risco de dar meia volta e te ires embora.
Vês a porta aberta. Temes que la já não esteja o que desejas
que esteja. Também ficas amargurada se la estiver o que anseias estar. A ambiguidade
da indefinição troça o teu juízo e o teu sentimento. A floresta encantada do
teu espaço pode transforma-se numa coisa magicamente enfeitiçada pela tua
ambiguidade. Navegas entre o ser o estar e o fazer e essa dúvida te alimenta a
falta de definição.
Vês a porta aberta. A mesma porta que quiseste que nunca se
tivesse aberto. Mas que sempre ambicionaste no fundo do teu desejo mais sexual
que nunca se tivesse fechado. Desejaste tanto que acabaste por te esqueceres de
onde tinhas deixado a chave para poderes acorrentar novamente aquela maldita
bondosa porta. E a fechadura, que já nem sequer dava o estalido do trinque a beijar
delicadamente a soleira.
Vês a porta aberta. Ternamente aberta. Fitas com os olhos o
que poderá estar daquele lado. Um lobo mau prontinho a devorar ferozmente o
capuchinho vermelho por não ter trazido o seu naco de carne, ou então uma
criancinha com um olhar tao dócil tao dócil na inocencia da esperança que lhe
tragas um chupa-chupa e uns beijinhos no embalo do teu corpo. Ou um lobo mau
disfarçado de criancinha maléfica que te comerá aos poucos chupando-te até ao
termino dos teus ossos sendo o teu predador mais terrível. Ou a criancinha mais
pacifica e mais amável disfarçada no pelo adocicado de um lobo que te aquecerá
o corpo com a energia da sua pele.
Vês a porta aberta. Nem sabes o que la esta. Sabes que do
lado de cá tens a certeza que está apenas o paradigma da tua incerteza. E por
mais que os teus olhos fitem as paredes que ostentam o telhado, sabes que não terás
nada mais com que te possas entreter a ordenar aos teus castanhos olhos que
admirem o interior. Sabes que não tens janelas. Vives numa gruta de uma porta
só por onde entra toda a luz.
Vês a porta aberta. Tu sabes que a porta se abriu. Enquanto tocavas
o teu saboroso saxofone no banco do jardim para todas as pessoas invisíveis que
teimavam ser o teu público que te aplaudiam silenciosamente e te deixavam
moedinhas com prova do teu encanto. Os teus olhos brilhavam. Raiavam imaginação
e desejo. De que a porta se abrisse.
Vês a porta aberta. E o teu coração palpita que nem um louco
como se estivesses bêbado pela incerteza do que se encontraria daquele lado. A mesma
incerteza que tiveste se eras capaz de cuidar do canário que albergaste dentro
da tua gruta. A mesma incerteza que tiveste ser seria capaz de recuperar pela recaída
do tinto no copo e da recaída do copo dentro da garganta com o respectivo
tinto.
Vês a porta aberta. Sabes que ela não se abriu por acaso. Teve
uma dica. Um pequeno encontra entre o poder e o querer.
Vês a porta aberta. A tua assombrosa dor da dúvida tomam
conta do teu andar completamente descompensado e abrires a restante porta. O estilhaçar
do romper da porta sobre o soalho de madeira fez timbrar sobre o teu ouvido
meio gasto pelos anos fez arrepiar ainda mais a tua pele por saberes que
entravas na gruta. Na tua própria gruta.
Vês a porta aberta. A tua imensidão escura fez elucidar todo
o teu anseio da luz. A lamparina ocular acendeu-se infundindo sobre ti e sobre
as quatro paredes o semblante que mais desejavas que ali estive.
Viste a porta aberta. Os receios de ultrapassar a margem da
porta meia aberta para o lado da porta totalmente aberta se suavizaram pelo
toque mais reconfortador na tua mão já fria pelos arrepios ternos da saudade.
Viste a porta aberta. Ultrapassaste os teus próprios medos. E
as lagrimas despidas em sorrisos sabiam a mel despejados sobre os teus lábios
pela caricia te oferecida pela eloquência da sensação mais carinhosa fêmea.
Viste a porta aberta. E ali, na tua cadeira dos anseios,
sabias quem te olhava a sorrir pela menina dos olhos, aquela que sempre te via
com um olhar terno e que a mesma ternura lhe enfeitiçara o amor por ti.
Viste a porta aberta. E num abraço de saudade juntamente com
palavras mudas faladas com o bater compassado do coração, sabias que a tua amada
estava ali. A tua frente, pronta para te receber no teu eterno descanso na
profundeza do vosso amor infinito
Olá, amigo estou visitando seu lindo espaço, com a pretensão de voltar outras vezes.
ResponderEliminarOlá Enide. Obrigado pela tua visita e espero que me continues a visitar sempre que possível :D beijo
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