O fervilhar do sangue lhe atravessa o gélido corpo arremessado
sobre o carro pela arma apontado sobre a fronte, das malditas palavras assaltadas
nos ínfimos momentos de quem acaba por magoar o coração da mulher.
Pela verdade escrupulosa demente, os pensamentos traiçoeiros
lhe levaram a fugir dos tiros à queima-roupa, antes que a morte dos ciúmes lhe
acalmassem as terras frondosas entaladas em quatro ripas de madeira ainda por
envernizar.
Cai no asfalto, rebola no asfalto, pairando sobre as poças que
a chuva se limitou, torrencialmente a regar aquele chão encharcando sua roupa,
já que de molhada a sua pele ardente do roçar no chão, se limitara a incendiar
os fogos do desespero. Não demora muito e as poças de límpidas e calmas águas
advindas dos deuses do céu, gregos e romanos, egípcios e de outros povos
quaisquer, seria substituída pelo sangue que o seu corpo liberta, escorrendo da
cabeça, dos ombros, das costas, das coxas.
Talvez sejam as pagas pelos medrosos sentimentos, veneno
letal que deixou queimar e cirandar as penínsulas dos seus receios, não ilustrando
as paisagens dos seus sonhos e das suas vontades, cercando as armaduras que julga
ele, a proteção do seu presente pelo passado embrulhado em paninhos de seda
engavetados nos baús das avozinhas que atirou as chaves para longe e não dali,
o querer hoje se lembrar por que motivo temeu o regresso desse passado sobre a
presença do presente e que de malditas farsas lhe custearam as dores de ninfas
das esquinas lhe deram ao largo as tesões prometidas em trocas por engenhos de
alguns materiais cheques que dos velhos do restelo, lhe causaram os medos e lhe
empurraram para o fundo dos oceanos em que ele se enfiara numa ancora e o
manteria preso bem às tormentas da vida que se encantou nos cantos das medusas
sereias inspiradoras do seu órgão.
Não temeria mais ele elas flores. As suas inafundáveis e
questionáveis mortes existencialistas lhe negavam os líquidos dos altares em
que ele sucumbia os palatos dos olhares. Era um sermão dele para os ouvidos
tendenciosos a amordaçar os silêncios mal cheirosos das oratórias sacramentais
de quem, no atar fúnebre, taciturnidade de cor roxa, fria e semblante
amarelado, já larga os suspiros clementes de quem em vida, em plena vida de
coração que ainda bate, foi rei e fez jus do seu poder.
Sai do carro, morto. E ponto final. As suas cirandeiras de
palavras de cores e ditosas pétalas perfumadas das suas intenções pecaminosas
ilustradas pelo bem, caem pelo ermo do asfalto.
Já nada lhe vale as simples tentativas de perdoar o seu próprio
órgão. As vontades bélicas traições ratoeiras traíram o seu próprio ego
amaldiçoando as maldiçoes da corpulenta bela doce encantadora fêmea que lhe saciou
o cio, na cama deitados sobre o banco de trás do capo do carro no meio das
paisagens arvoredos do mar. O som, distorcido entre os gemidos bombeados pelos
corpos, e as ondas do mar que se esbatiam em plena sinfonia arcaica do
despachar das roupas, depressa se argumentou nas tesões das trações,
refrigerando os motores, dele do órgão, dela da carteira, e se prostituíram nas
verdadeiras intrínsecas sacramentais, litúrgicas, divindades, relacionais corpos
do sexo e do amor.
E agora, o chão que estremece no rompante da aurora da sua
morte insensível dor que lhe atroz as almas que voam rumo ao roteiro do
inferno, as chuvas não lhe abençoam as suas tentativas de perdões. Os cordões
do diabo lhe atiçam faíscas lhe encaminhando sobre as sinaléticas cordas de
ferro aprisionadas às asas da sua garganta e lhe levam, às fomes, da lenha que
arde no vulcão que tantas vezes ele ambicionou no corpo da outra.
O enxofre, adorado o perfume nos corpos, lhe suga as
narinas, lhe escrupuleando os corpos, sobe ele as montanhas, cavalga ele no
rio, retira o perfume das pétalas e rapta o pergaminho das histórias mais
ternurentas das paixões conquistadas pelas divindades dos seus olhos. Amou, por
certo, ele, a única mulher que lhe acrescentara o súbdito prazer do seu corpo
humano animalesco do seu cérebro. Crucificou ele, todas as conquistas nas
cuecas espalhadas pelas masturbações a duas mãos e a duas bocas sobre as irreais
fantasiadas nos seus espelhos, que dos nada, um conjunto de vazios ele guardou.
A única mulher.
Que ele amou
Amou.
Traiu-a mal os seus olhos cantaram as três vezes e ele negou
as paixões, os fósforos que acendiam galopantes tentações irresistíveis certezas
que não aguentaria fugir dos rumos traçados caminhos retos retilíneas
fronteiras de não sucumbir nos leitos das mamas que lhe apenas alimentavam o
vazio de sentimentos.
Fodeu. Perdeu-se de novo nos escombros assombrosos das
noites negras. Ele próprio se tornou negro e intimo dos raios e trovoes experimentando
os lumes quentes e as velas acesas dos corpos em que os pavios se acendem, num
instantinho, ao fim, de um olhar, no balcão, do copo, da música que dança nos
convites de em tua casa não, mas no hotel serei tua. Leva-me e calça o
preservativo explosivo dos balões que sobem no ar e não encontra as estrelas.
Fodeu, é certo… mas que adianta foder o sexo se o sexo não o
levou, nem a leva às estrelas. No máximo, o leva à libertação de alguns fluidos
orgânicos, o esperma que bem espremido lhe serve para um nada de um todo que
mal realizado o coito lhe dará frutos de um filho e a ela, lhe trará por
ventura, algum repasto monetário aos seus seios, carteira preferida de quem por
estes caminhos se insurge nas tentativas de frustrar alguns ansiolíticos depressivos
pelos caminhos das irretidões.
E agora o chão das suas palavras e das suas afeiçoes não lhe
atraem mais razoes de vida. O balázio prometido lhe matou desfigurando mais do
que as mil razoes. Suicidou-lhe o homicídio por ele mesmo criado.
Desventrou mais do que o corpo, da única mulher. Da única fêmea
que lhe causara o despreendimento do sexo e lhe limpara as chagas das mãos
humanas ressuscitadas sobre as cruzes deitadas por terra e enfiadas nas romãs
dos pomares servindo de esteio aos canaviais e aos pés de feijão na esperança,
que o feijoeiro crescesse e o levasse ao purgatório podendo então limpar a sua
alma.
Mas não.
Sucumbiu.
Tesão da traição. Traição pela tesão. Tesão, seja lá o que isso
for. Foi o seu caixão doentio que lhe abriu as portas, se lhe abriu a tampa da
cova, e ele mesmo, coveiro sepultou em marcha fúnebre silenciosa, tenebrosa e
horrenda aos olhos das larvas que já preparavam a mesa do altar com o corporal
estendido, a patena no lado direito, o cálice do lado esquerdo e a píxide no
centro. O sanguinário a servir de guardanapo e a assembleia aspergindo o
incenso purificando o alimento que os irá saciar, o corpo do homem que se fez
traidor, judas.
E se enterrou. Os seus olhos, foram imediatamente retirados
pelo bisturi do sol. Fechou-se as cavernosas deambulantes olheiras que jamais alguém
o observara com tamanha vontade de um aperto de mão o cumprimentar. Lamina aguçada
e afiada lhe desventra a zona entre a fronte e a testa, descampando o cérebro e
lhe retirando os miolos. Se ate ao momento de justas vontades de nada lhe deram
serventia, não prestava para petisco. As escamas, quer dizer, o pelo,
chamuscado não fosse um pentelho lhes aguçar as cavidades das gengivas e
servir, talvez, de palito e lhes escarafunchar a dentadura de comerem a carne
rija e dura.
Salve fome das bicharadas terráqueas, que se não fosse tal
fermento orgânico da terra, desfaleceriam à fome. E mesmo assim, foi um manjar
muito bem abençoado e aspergido com muito incenso e água bento e ungido com
bastante óleo dos sacrilégios.
E ela, mulher, capataz das frontes, súbdita das corajosas coragens
se despedaçou nas pétalas de gesso, se repartindo sobre os quatro quadrantes do
mundo e se dividindo por todos os pontos cardeais existentes, refugiando-se num
oceano qualquer engavetando na ostra guardando-se como pérola para na duvida,
os tentáculos de outrem não lhe aspergindo redes de captura. Não a olheis, é
perola, mas ferida de dores que dos olhos seus, lágrimas choradas, as flores
murcharam, e as estrelas se despedaçaram causando um elemento bélico no alto
ceu, rebentando bolinhas de plástico encerrando a cadeado de fio de nylon e
fios de cetim, embrulhando o seu corpo em cama sua aprisionado à arma de cano pronto
a disparar.
Febris traições das camas argálias ofuscadas os cheiros de
poros suores frios substitutos de calores de paixões.
Ela é a única mulher que ele amou. E se proferiu nas preferências
de se entregar nas putas de mamas ao léu e das freiras dos conventos das
esquinas, orando as crenças mórbidas das suas injustas loucuras.
E ela, orou, piedosamente, sobre as dores dolorosas arremessadas
pelos ventrículos dos seus cegos sentimentos.
Deixou-o partir. Morto. Suicidado. Sem a bala que não saiu
do cano.
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