Porta entreaberta
O que há para além da frincha
O que há para deste lado da frincha
O que será que me espera daquele lado
E o que será que lhe espera deste lado
Uma luz brilhante daquele lado
Uma escuridão negrume deste lado
Uma cadeira tatuada por um lençol branco
Uns sapatos castanhos a seus pés
Pés estáticos
E um corpo que deste lado se embala
Cuidadosa e silenciosamente
Pela velha madeira que range-
Um violino
Suas vibrações soltam notas imperfeita
Compondo uma sinfonia
Que faz dançar a luz
Que pula pela frincha da porta de madeira castanha envernizada e emoldurada
Da janela com vidro esburacado
A brisa quente de pleno anoitecer
Em solstício de verão
Faz a cortina de seda esvoaçar ate ao lençol repousado nas seis pernas
imoveis.
Do lado de cá se faz sentir o afagar dessa brisa
Nesse castanho finíssima linha do tecto ser
Que esvoaça ao som imperfeito das notas de violino
A mão do meu ser se prepara para abrir o que está entreaberto
Não sabe o meu ser se será a porta ou o ser de dentro do ser
Dois pés se soltam dos restantes quatro pes
A brisa faz voar em torno da sombra
O lençol esbranquiçado
Fazendo-o dançar pela sala entreaberta
Deixando que dez dedos em uníssono
Toquem miraculosamente em lados opostos
Na maçaneta antiquada da porta de madeira castanha envernizada e emoldurada
Fazendo sentir as notas perfeitas do ranger do abrir em definitivo
Do que está entre aberto.
Deixando que o sol ilumine por completo
O envolver dos quatro braços
Sem comentários:
Enviar um comentário