quinta-feira, 7 de junho de 2012

O choro da criança


Ouço ao longe o cantar desencantado do choro de uma criança. Na minha imaginação balança o peso desmedido de saber se chora de mágoa, ou de tristeza, de fome ou de saudade. Talvez o peso não pese pela falta do saber. Talvez seja inalcançável esse ser que ao longe desce sobre mim…
Mesmo que tente decifrar de onde nasce esse choro desse cantar, não o encontro…
Sei que vem de lá longe… Ou talvez esteja demasiado perto para o ver…
Os olhos ao longe vêem demasiado bem, enquanto ao perto são demasiadamente cegos. As ópticas ainda não produzem lentes que vejam demasiadamente perto. Sei que esse encantamento da sinfonia soluçante me chama, me pede para ir ao seu encontro, e tão depressa eu quero ir, como nem sequer mexo uma ponta do dedo do pé. E essa criança chora, continua a chora, vertendo lágrimas pelas sua macieira do rosto que escorrem com intensidade. Lágrimas cristalinas carregadas de sentimentos. Chora e não sabe porque. Talvez, se a plenos pulmões eu gritar por ela, talvez, suponho e creio, que ela me responda…
- Criança que choras, onde estás tu?
Grito uma, duas, três vezes e nada. Nada se dirige a mim como resposta. Apenas o seu choro enternecido de lágrimas! E nada, apenas e unicamente nada, alem das suas lágrimas invisíveis, vem até mim… Nada de nada…
E por mais que eu busque, um ponto de referência de audição longitudinal nada consigo. Apenas fico com o seu belo e melódico registo sonoro do seu choro. Um registo que fica marcado e que o ouço em todos os cantos, em todos os momentos. De onde vem esse choro? Não sei. Os olhos ao longe vêem demasiado bem, enquanto ao perto são demasiadamente cegos.

1 comentário:

  1. ACHEI MUITO INTENSO ESTE SEU TEXTO, CHEIO DE DOR
    E UMA EXISTENCIA DE LAGRIMAS, ESTE CHORO VEM DE ONDE?? VOCE SABE NÃO É???? PARABENS, MUITO BOM.
    SILA- SISOYYO

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