sábado, 2 de fevereiro de 2013

Parece que vai chover



Parece que vai chover
Digo eu tu para com eu mesmo,
Enquanto segredo murmúrios nessa janela de ferro gradeado que prende nessa sala escura, negra, obscura de sensações não coloridas.
Parece que vai chover,
Pelo menos as nuvens assim o ditam numa aparência acizentada carregadas de líquidos prontos a serem jorrados, esperando apenas pela facada para ensanguentar os seus pulsos em lágrimas de dor, de sofrido, de solidão…
Parece que vai chover…
Ao sabor do tornado, meu corpo se contorce em ideias e pensamentos
Absolutamente astutos, indo ao mais ínfimo pormenor de cada sentimento mental de poder, amor e ódio…
Pelo menos parece que vai chover.
E eu sem guarda-chuva que me abrigue destes pingos, que esconde secretamente o vulto que me quer possuir,
Feio e miserável, mas admirado quando a chuva se dissipa, transformando a dura desalinhada ordem sentimental da realidade estranha que me encharca num torrencial soluço ofegante da fuga na avaria do guarda-chuva.
Mal-amado, mal criado mal aceite,
Sou demente do meu coração
Bipolar erradamente formatado no disco rígido intelectual, que me permite viajar e navegar em viagens alucinadamente loucas em busca de novos mundos, soterrados nestas quatro paredes escuras.
Parece que vai chover,
Mostra-me um mundo novo
Estou farto deste
Dêem-me um mundo novo
Que já não suporto este
No meu louco insano colete-de-forças demencial sou mais sano de que muitos outros seres,
Já dizia Álvaro de Campos “Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?”
Mostrem-me um outro mundo que já estou farto deste em que habito
Acordo de uma forma estranha com uma mensagem invisível enviada pelo telégrafo telepática digitalizado pelos neurónios disfuncionais…meus e teus.
Informa-me que sou uma fraude…
Não sou eu que o sou. A minha maneira de ser é que o é.
Não me digas que o sou. U vês-me tal e qual como eu sou, sem ostentações mágicas nem palavreado rico de simbolismos. Esta é a minha forma de comunicar. Encontrei no silêncio da palavra praticada a forma de chegar a ti e aos outros. E se isso te incomoda, o meu silêncio, a minha astucia verbal, é porque não me compreendes….
Sai, Sai, Sai, Sai….
Sai deste meu mundo… Sanguessuga animalesca que enquanto chupas socialmente a vida humana, eu vivo no meu mundo próprio… Por isso, Sanguessuga, demónio carnal, animalesco horrendo sem coração, a mim, não chupas tu o meu Sangue. Viverei só para te dar com o pau até abandonares o meu peito.
Sai, vai….
Digito o PIN do meu instrumento chipado. E se por acaso cair no erro ou luxo de sentir e de pensar...Vou ao médico. Ele receita um ansiolítico. Dez minutos, diagnostica-me mentalmente paralítico.
Parece             Que vai chover…
Mentalmente a minha mente paralítica vagueia por entre esta chuva seca debaixo deste sol vulcânico.
Parece que vai chover… e estas paredes ferradas a gradeamento contra a fuga corporal estão da mesma cor das nuvens que fogem da mesma maneira que o meu pensamento foge daqui.
Parece que vai chover





(ao som de Dias da Raiva, com inspiração em Carlos Nobre “Pacman” e Álvaro de Campos)

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