Ela chega sem ninguém dar por ela. Puxa uma cadeira, ajeita
o vestido, afasta o cabelo, e num toque de pura sensualidade feminina,
senta-se, sem ninguém dar por ela.
Chama o garçon, e pede um uísque, duplo, sem gelo. E
enquanto ela aguarda, impacientemente, pelo seu William Lassons, o seu primeiro
companheiro dessa noite, respira fundo e olha em soslaio percorrendo todas as
mesas da sala. Lustros a meio tom encandeiam todas os olhos perdidos no nada do
tempo, percursos do abismo e das plenitudes celestes, vagueiam todas as almas
ali petrificadas.
Talvez essa noite, seja a noite de uma ressurreição das
almas, onde ela quer ser a sacerdotiza desse ambiente, permitindo o seu corpo,
ser o missal dos evangelhos nela descritos. Usar, todos os perfumes daquela igreja
como incensos de purificação, alimentando todas essas almas, com as
sensualidades do seu liquido interior como se de água benta se tratasse secar
todas as sedes dos universos cosmos daquela ceara.
Derrubar, todas as crenças ajoelhadas a seus pés, ser a
maestra de todas as orquestras bocais e bucólicas em sistemas ritmicos de todos
os lumes incendiados sobre aquelas paredes, sem ainda ninguém se ter apercebido
de que naqueles metros quadrados existe uma bomba prestes a explodir.
O garçon, de camisa branca e um laço a esganar a garganta,
sufocado, trás por fim o seu pedido, satisfazendo a sua vontade. Consomada a
primeira fase da sua mordomia, e da sua vontade, faltava passar a segunda fase,
encontrar os olhos cerrados de quem beber o liquido derramado sobre a sua pela,
sobre o manto quente dos seus lábios.
Enquanto saboreia a
segunda degustação, depois dos primeiros olhares embebidos, nos suores
gélidos que lhe refrescam o whisky, sente o pulsar de uns olhares incomodativos
de um camafeu ostentando os seus musculos em camisa de seda semi aberta
chamando pelos seus cabelos afagados num incendiário assassino de todas as
solidões. Enquanto esse másculo a traça em objectivos horizontais de linho e de
seda, em tábuas ornamentais sobre ass verticalidades e horizontalidades, mais
do que silenciosa imaginação, ela aguarda impacientemente, pela pólvora de um outro
estranho lhe custe o rasgar de todos os trajes vestidos em sua pele. Ela sabe o
que procura. Não apenas uma força visivel em estáticas electricidades visiveis
num caparro musculado, ela quer mais, quer a força bruta interior de uma
penetração interior na sua alma, elevando-a num extase climax sobrenatural.
Vai agitando o liquido do seu copo de uísque enquanto degula
cada pessoa que não lhe preenche os requesitos quimicos do seu corpo. Observa
atentamente todas as naturezas encadeantes das auras de cada efémero na busca
incessante do Adão ou do Zeus que lhe ensine a comer o fruto divino do perdão.
Um último gole e bruscamente deixa deslizar um pouco do uísque
por dentro do vestido deixando que este depressa arrepie a sua pele, transmitindo
um odor quente de fluidos suores orgânicos de desejo hormonal, envolvendo
rapidamente uma remeniscencia emocional no meio da sala. Uma cadeira
ligeiramente é abandonada por um desafio musical do sujeito que balança seu
corpo em passos de tango em direcção à velha jukbox encostada na parede junto à
janela. Introduz a moeda, carinhosamente, como se a imaginar beijar os lábios
daquela femea estivesse, escolhendo as notas sensuais perfeitamente adaptáveis
e palpáveis à suavidade dela.
Numa sinfonia entre harpas e violinos, os sons relaxantes de
tonalidades celtas pagãs, exortam as viagens tridimensionais dos tres mundos, o
dele, o dela e o tabernáculo em que habitavam aquelas duas sombras póstumas
transladadas para o ventriluco real dos dois corpos aprisionados nos quatro
olhos.
Enquanto na juckbox as viagens se idolatram nas imaginárias
nuvens de algodão das notas, os sofregos olhares dedilham os sopros das flautas
de pan das paixões flutuantes nas vibrações mais fortes dos tremores de terra,
esses cujos que estremecem todas as tempestades, e as paredes derrubadas nos
invisiveis muros entre ele e ela que os separam.
Em blocos de feno, delta das suas pernas de leoa em plena
época de caça de macho, destila todos os licores profanados em seu corpo, ventre
dos desejos, liberta todas as algemas e nós de marinheiros de água doce, cintilam
os seus olhos ao saborear o açucar do licor masculino em seus lábios, beijando
num emarenhado de abraços em ambos os pirateados corpos, saqueados tesouros
debrastando todas as frondosas fendas dos vulcões nos limiares agrestes bancos
daquela taberna, onde os bêbados são sóbrios, e não por horas inexistentes,
naquelas préstimas horas, eles eram
bebados.
Sobre o encaixe perfeito da pérola na ostra, fecundam os
territórios humanos nas suas peles, anunciando as aclamações orgânicas nos
gemidos fundindo todos os satélites, anunciando sobre as estrelas cadentes, o
nascimento do mais puro e nobre sentimento destilado nos sabores ardentes de um
fogo jamais apagado, nem sossegado em todas as brumas dos revoltos mares. Capacitam,
os ditos louvores de um povo, a exortação dos evangelhos das amamentações da
criação, a segurança de preencher com os oiros, os lustres do coração,
recheados de luz e de espirito.
E nas valsas e nos tangos, despem todos os vestigios de
traições de vestidos que raptam as sensualidades de ambos, colocando a nú,
todas as vindas mundanas das suas fortalecidas vontades, inerentes a todos os
desejos carnais, e divinos, carregando nas posições eróticas, todas as
sabedorias apreendidas nas aulas diárias dos sabores do pecado.
Entre os batimentos musicais da juckbox humana, se gera a
electricidade iluminando a escuridão fantasmagórica, culminando com o incendio
verbalizado nos orgasmos vulcânicos, expelindo todas as lavas sobre o universo,
em fogos de artificio, enunciando o acasalamento bélico de duas forças unidas.
Ultimo gole, bebido, seca os lábios, despede-se do garçon, e
na sensualidade de entrada, retira-se aos aposentos da rua, desalinhando todo o
cosmos, para não mais, ser perdida a estrela mais brilhante da terra, seguindo
todos os trâites da sua existência, atravessando a rua em direcção ao seu
automovel.
O destino dele, será o mesmo que o seu, rumo aos aneis saturnianos
unindo todas as forças , todas as terras, todos os ares, todos os fogos e todas
as águas.
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