segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ah se tu soubesses



 


Ah, se tu soubesses o quanto eu te recordo da mesma forma como eu me conforto na cadeira a saborear uma chicara de café acabado de fazer na cafeteira de inox oferecida pela minha avó na véspera da sua sepultura no túmulo do eterno descanso confortavelmente descansada e desconfortavelmente o meu pensamento se prende ali naquela parede onde emoldurado se encontra o interruptor do pensamento. Sim, o interruptor que se encontra avariado e apenas se mantem funcional mesmo que em situação off ele não se desliga. 

Ah, se tu soubesses o quanto eu me recordo de ti, da mesma forma coo eu me sento preso naquela parede imaginando a cadeira amparar-me o corpo e as quatro perninhas me fazerem voar em volta daquele interruptor em estado off, emoldurado e ligado ao meu suplico pensamento, enquanto degusto a cafeína importada da terra do sei lá onde e vagueio por entre linhas e palavras e pelo mundo fictício das paginas amareladas pelo tempo.

Ah, se tu soubesses o quanto eu te lembro recordando tu sentado ali no interruptor fazendo ele de cadeira perante o teu corpo escultural e delicado e frágil e moreno e cruzavas a perna enquanto balançavas o rosto d eu lado para o outro em busca de ritmo de uma dança obscura que só tu a sabes dançar em plena escuridão.

Ah, se tu soubesses o quanto eu te memorizo a tua perna entrelaçada a desfolhar risos e sorrisos a cada barbaridade dita pelo silêncio oscilado entre o olhar e o perfume inalado pelas narinas olfactivas e auditivas com que escutas o bater do coração em perfeito balanço entre o querer e o desespero…
Ah, se tu soubesses… Se soubesses o quanto eu tentei manter a lâmpada acesa naquela moldura em que os meus olhos ainda te desejam que deixes arder o fogo que sempre nos incendiou de prazer e querer que os nossos corpos sempre se habituaram a ser lenha e brasa incandescente.

Ah, se tu soubesses… E enquanto não sabes me manterei aqui, petrificado, sentado na parede de cal de perna cruzada, a desfolhar livros viajando pelo horizonte, a saborear uma chicara de café enquanto a cadeira ali jaz solta e sozinha e te admiramos a ti emoldurada e a desejar que a lâmpada não se apague e me continues a brilhar sobre a lâmpada do nosso amor.

Ah se tu soubesses…

Sem comentários:

Enviar um comentário