sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Talvez essa noite



Ela chega sem ninguém dar por ela. Puxa uma cadeira, ajeita o vestido, afasta o cabelo, e num toque de pura sensualidade feminina, senta-se, sem ninguém dar por ela.

Chama o garçon, e pede um uísque, duplo, sem gelo. E enquanto ela aguarda, impacientemente, pelo seu William Lassons, o seu primeiro companheiro dessa noite, respira fundo e olha em soslaio percorrendo todas as mesas da sala. Lustros a meio tom encandeiam todas os olhos perdidos no nada do tempo, percursos do abismo e das plenitudes celestes, vagueiam todas as almas ali petrificadas. 

Talvez essa noite, seja a noite de uma ressurreição das almas, onde ela quer ser a sacerdotiza desse ambiente, permitindo o seu corpo, ser o missal dos evangelhos nela descritos. Usar, todos os perfumes daquela igreja como incensos de purificação, alimentando todas essas almas, com as sensualidades do seu liquido interior como se de água benta se tratasse secar todas as sedes dos universos cosmos daquela ceara.
Derrubar, todas as crenças ajoelhadas a seus pés, ser a maestra de todas as orquestras bocais e bucólicas em sistemas ritmicos de todos os lumes incendiados sobre aquelas paredes, sem ainda ninguém se ter apercebido de que naqueles metros quadrados existe uma bomba prestes a explodir.

O garçon, de camisa branca e um laço a esganar a garganta, sufocado, trás por fim o seu pedido, satisfazendo a sua vontade. Consomada a primeira fase da sua mordomia, e da sua vontade, faltava passar a segunda fase, encontrar os olhos cerrados de quem beber o liquido derramado sobre a sua pela, sobre o manto quente dos seus lábios.

Enquanto saboreia a  segunda degustação, depois dos primeiros olhares embebidos, nos suores gélidos que lhe refrescam o whisky, sente o pulsar de uns olhares incomodativos de um camafeu ostentando os seus musculos em camisa de seda semi aberta chamando pelos seus cabelos afagados num incendiário assassino de todas as solidões. Enquanto esse másculo a traça em objectivos horizontais de linho e de seda, em tábuas ornamentais sobre ass verticalidades e horizontalidades, mais do que silenciosa imaginação, ela aguarda impacientemente, pela pólvora de um outro estranho lhe custe o rasgar de todos os trajes vestidos em sua pele. Ela sabe o que procura. Não apenas uma força visivel em estáticas electricidades visiveis num caparro musculado, ela quer mais, quer a força bruta interior de uma penetração interior na sua alma, elevando-a num extase climax sobrenatural. 

Vai agitando o liquido do seu copo de uísque enquanto degula cada pessoa que não lhe preenche os requesitos quimicos do seu corpo. Observa atentamente todas as naturezas encadeantes das auras de cada efémero na busca incessante do Adão ou do Zeus que lhe ensine a comer o fruto divino do perdão.

Um último gole e bruscamente deixa deslizar um pouco do uísque por dentro do vestido deixando que este depressa arrepie a sua pele, transmitindo um odor quente de fluidos suores orgânicos de desejo hormonal, envolvendo rapidamente uma remeniscencia emocional no meio da sala. Uma cadeira ligeiramente é abandonada por um desafio musical do sujeito que balança seu corpo em passos de tango em direcção à velha jukbox encostada na parede junto à janela. Introduz a moeda, carinhosamente, como se a imaginar beijar os lábios daquela femea estivesse, escolhendo as notas sensuais perfeitamente adaptáveis e palpáveis à suavidade dela.

Numa sinfonia entre harpas e violinos, os sons relaxantes de tonalidades celtas pagãs, exortam as viagens tridimensionais dos tres mundos, o dele, o dela e o tabernáculo em que habitavam aquelas duas sombras póstumas transladadas para o ventriluco real dos dois corpos aprisionados nos quatro olhos.

Enquanto na juckbox as viagens se idolatram nas imaginárias nuvens de algodão das notas, os sofregos olhares dedilham os sopros das flautas de pan das paixões flutuantes nas vibrações mais fortes dos tremores de terra, esses cujos que estremecem todas as tempestades, e as paredes derrubadas nos invisiveis muros entre ele e ela que os separam.

Em blocos de feno, delta das suas pernas de leoa em plena época de caça de macho, destila todos os licores profanados em seu corpo, ventre dos desejos, liberta todas as algemas e nós de marinheiros de água doce, cintilam os seus olhos ao saborear o açucar do licor masculino em seus lábios, beijando num emarenhado de abraços em ambos os pirateados corpos, saqueados tesouros debrastando todas as frondosas fendas dos vulcões nos limiares agrestes bancos daquela taberna, onde os bêbados são sóbrios, e não por horas inexistentes, naquelas préstimas horas, eles eram  bebados.

Sobre o encaixe perfeito da pérola na ostra, fecundam os territórios humanos nas suas peles, anunciando as aclamações orgânicas nos gemidos fundindo todos os satélites, anunciando sobre as estrelas cadentes, o nascimento do mais puro e nobre sentimento destilado nos sabores ardentes de um fogo jamais apagado, nem sossegado em todas as brumas dos revoltos mares. Capacitam, os ditos louvores de um povo, a exortação dos evangelhos das amamentações da criação, a segurança de preencher com os oiros, os lustres do coração, recheados de luz e de espirito.

E nas valsas e nos tangos, despem todos os vestigios de traições de vestidos que raptam as sensualidades de ambos, colocando a nú, todas as vindas mundanas das suas fortalecidas vontades, inerentes a todos os desejos carnais, e divinos, carregando nas posições eróticas, todas as sabedorias apreendidas nas aulas diárias dos sabores do pecado.

Entre os batimentos musicais da juckbox humana, se gera a electricidade iluminando a escuridão fantasmagórica, culminando com o incendio verbalizado nos orgasmos vulcânicos, expelindo todas as lavas sobre o universo, em fogos de artificio, enunciando o acasalamento bélico de duas forças unidas.

Ultimo gole, bebido, seca os lábios, despede-se do garçon, e na sensualidade de entrada, retira-se aos aposentos da rua, desalinhando todo o cosmos, para não mais, ser perdida a estrela mais brilhante da terra, seguindo todos os trâites da sua existência, atravessando a rua em direcção ao seu automovel.

O destino dele, será o mesmo que o seu, rumo aos aneis saturnianos unindo todas as forças , todas as terras, todos os ares, todos os fogos e todas as águas.

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